domingo, 11 de julho de 2010

Auto da Barca da Bola

Ontem, o Domingo prometia, o sol brilhava e o vento desfraldava as fraldas da camisa de fim-de-semana. Havia uns zumbidos de fundo, rumores, de que o pessoal da bola poderiam matar-se uns aos outros. Fiquei contente, quanto mais depressa esta gente deixar de existir melhor. O país passará então a ter o merecido tempo para olhar outras merdas mais interessantes. Mas com medo de ser confundido com as beldades ligadas a este mundo da bogalhinha redonda, e com conhecimento defeituoso deste modo de vida para uns quantos mafiosos, senti-me em fora de jogo e parti até a orla marítima. O sol prometia, aquecia o frio do último mês, caminhei pelo areal e encostei-me a uma rocha pacífica, virada para a imensidão e sem mexilhão. Deixei-me embalar pelo movimento das marés, fiquei a pensar o que poderia escrever num dia tão bonito. No meio deste encantamento, surgem uns gritos fininhos que mais pareciam uma cana rachada. Não é que me sai um caranguejo com a bandeira do Poooorto a cantar os filhos do dragão. Fiquei fodido! Eu que até nem gosto de futebol. Pensava eu que fosse uma situação passageira, e logo de seguida aparece uma lapa, baptizada assim por viver na zona da lapa, com um cachecol do Benfica. Palavra troca palavra, a coisa azeda, e partem para o contacto físico. O caranguejo avança de pinças no ar, quer dizer recua, a lapa por sua vez amarra numa santola em punho e partem para cima do caranguejo. Gera-se uma confusão, o barulho atrai mais artistas da bola, como qualquer bom português sempre presente nestas alturas zaragata. Aparece um polvo com ar de rufião, e mãos no ar a distribuir estalos por todo o lado, vim mais tarde a saber que era do Sporting, trazia um leão-marinho amarrado a uma trela e acirrava-o contra os opositores. A aglomeração era cada vez maior, vi então passar um carapau com o cachecol do Braga, trazia um canudo de aço na mão ameaçando o lampião que alumiava o caminho para os barcos regressarem são e salvos, coitado, estava bastante baralhado. Em grande correria surge uma faneca de espada na mão, percebi que era do Guimarães, tinha um elmo igual ao D. Afonso Henriques, e sem que nada fizesse esperar aparece um robalo de capa com a cruz de Cristo a atirar pastéis de Belém. Foda-se! Até Os Belenenses, que já desceram de divisão andavam a dar cacete. Senti-me ameaçado, e pensei dar aos joelhos dali para fora. Já estava a enrolar a toalha que tinha vindo de oferta na revista Máxima com uma brochura do Cristiano Ronaldo em topless, quando finalmente chega a polícia. Começa a disparar para o ar, aponta-me a pistola, tento dizer que nada tinha a ver com aquele mundo, mas a bófia não me ouviu e dispara. É neste instante que acordo, não com a bala que felizmente passou de raspão, mas com a água a entrar-me nas partes baixas. Estraguei o meu Domingo, molhei o abono de família, e ainda apanhei uma multa do cabo do mar. Estava bandeira vermelha e não podia tomar banho. Estes cabrões da bola só me arranjam problemas, nem na praia se pode estar sossegado.

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Alexis Publicado: 04/05/2010


Mensagens: Auto da Barca da Bola para joãosurreal

bem...eu devo dizer-te que me diverti a valer por ter vindo ver/ler a bola.

ah,ganda joão...

beijo nessa bochecha.e vê lá o que me respondes...rsrsr.respeitinho!agradeces e pronto.

alex

joaosurreal:

Atão tá bem, como pedisses muito não bou escreber muito. Tou muito cansado.

O cabo do nosso mar não foi de modas, passou-me um multa de trinta mil e coroa. Zangado, enquanto desenhava a rifa, e soletrava o artigo da lei dos mares, dei-lhe uma puta no boné que com o vento lambeu o areal.

Enquanto o manfias corria atrás do carapuço dei à soleta para o lado contrário. Para despistar o marujo, entrei para a claque dos red boys vinha a passar). Comprei um cachecol e entrei para o meio dos rapazinhos de coro, e em jeito de desafio comecei a cantar: SLB, SLB, SLB, glorioso…, quando dei por mim estava dentro de um cacilheiro a caminho do Barreiro. A sorte é que tinha uma naifa dada por um amigo vermelho, meu mano a partir de hoje, apontei a garganta do comandante e obriguei-o a trazer-me ao Poooorto. Carago, foi uma viagem, filha da puta.

beijo alexis

js

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Alexis Publicado: 04/05/2010

Mensagens:Auto da Barca da Bola para joãosurreal

puxa,js...para a próxima levas-me a ir ver bola contigo?parece-me deveras emocionante...rs.

e agora chiu.

joaosurreal:

tá bem, num digo nada.

bem que me custa este silêncio...

não sei se consigo

um
dois
três
quatro
cinco
seis
sete
oito
nove
dez

tou nervoso

onze
doze
treze
quatorze
quinse
dezazeis
dezazete
dezazoito
dezazanove
dezavinte

tou ainda mais nervoso

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josetorres Publicado: 04/05/2010

Mensagens: Auto da Barca da Bola

Gramei.

joaosurreal:

Eu também gramei. Não foi fácil gramar esta merda, tive sorte porque este fim-de-semana estava na rádio popular uma promoção especial de um gramador de duas cabeças, com entrada de 36 pinos uma espargata e um mortal à retaguarda. Tive sorte que como era dia da Mãe ainda me deram duas lâmpadas de 24 velas de bilros. Aldrabões, não é que a merda das lâmpadas só acendiam á noite. Tamos num país fodido.

js

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Moreno Publicado: 04/05/2010

Mensagens: Auto da Barca da Bola

entretanto passou uma sant(ola) em biquíni a palrar: "o que é nacional é bom".

um abraço

joaosurreal:

E num é que a dita Santola, filha de uma navalheira que andava a pavonear-se num iate em frente à esplanada, que dava para o paredão da praia, tirou a parte de cima do biquíni, e armou um burburinho com um cardume de fanecas reformadas, que tinham tirado o domingo para ver a praia numa excursão organizada pelo padre da paróquia.
Foi o caralho naquele areal! Não fosse a polícia montada em cavalos marinhos que andavam a dar de beber ao bichos, e o mar podia ter desaparecido por um tempos.
Se fosse no estrangeiro, estas gajas santoleiras não andavam assim a fazer porcalhices pelas nossas praias protegidas. Tenho saudades de quando elas iam de saias até aos pés e sem cuecas.

abraço Moreno

js

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cleo Publicado: 04/05/2010

Mensagens: Auto da Barca da Bola

Eu se fosse a ti... vingava-me!!!

Está demais o teu texto!
Podes escrever mais como este, estás de parabéns!

Beijo

joaosurreal:

E bou-me bingar. Bou escrever uma história do mundo do real.
Os jogadores cheios de Fair Play evitavam ao máximo aleijar os seus colegas de profissão, o árbitro acabou por praticamente não apitar, não fosse a entrada de um pobre animal no relvado, e nem se tinha dado conta do senhor vestido de negro. Os dirigentes simpáticos confraternizavam com os dirigentes adversários. As claques no final do jogo, reuniram-se todos no café da esquina do estádio, e aos abraços e beijinhos agradeceram aos seus colegas e adversários a presença no seu estádio por forma a emprestar mais colorido ao futebol.
Com a partida da camioneta da equipa visitante, um grupo de adeptos da casa, bateu palmas e aplaudiu, atirando flores. Fizeram um tapete de amizade pelo alcatrão que marcava o caminho de regresso da equipa visitante.
Agora Cleo diz-me lá se não me vinguei….

Beijo, obrigado

js

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cleo Publicado: 04/05/2010

Mensagens: Auto da Barca da Bola

Oh, se vingaste!
Foi tal e qual como registaste na escritura da tua vingança...hehehehe...

Beijo

joaosurreal:

viste como eu sou mau...

um dia ainda serei muito mais mau, um dia, quando crescer

js

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Dakini Publicado: 05/05/2010

Mensagens: Auto da Barca da Bola

Nem sei como não te encontrei. Agora me lembro que andava por lá um burburinho, sim. Lá para os lados do Barreiro. Espera nem sei já. Parece que sim que foi. Ou seria Almada. Não também não, aí não. Sei que do sitio onde eu estava (tinha aterrado há pouco de um voo importante, como sabes) só se viam cabeças que mais pareciam de elefantes. Deviam ser aquelas cabeças que eles usam quando fazem desfiles, como é que se chamam...? Bem deixa lá

Gostei

joaosurreal:

Foi ao lado da praia do Meco que por sinal naquele dia estava interdita á nudez. Os banhistas naturistas comemoravam o dia nacional da roupa. Assim, as gajonas peladas, naquele dia traziam todas casacos de pele e botas altas, uma pouca-vergonha para o país. O pior é que a toda a hora apareciam excursões de camionetas de mirones e saiam de lá todos revoltados, com razão nem um tornozelo se via. Depois andam para aí a dizer que é necessário fazer férias cá dentro, vergonha é o que isto é. Até temos um dia nacional de roupa quando andamos todos de tanga.

Beijo

js

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